Bom

O sono abre-me a mente. Como se o bocejar do meu corpo quebrasse o cadeado dos pensamentos e começassem a girar as rodas deste moinho de sentimentos que vai remoendo por dentro. E por mais voltas que as velas do meu sentir dêem, tu permaneces o centro da minha atenção, da minha obsessão, da minha paixão. Não, de facto, o mundo não revolve à tua volta mas o meu não tem outro desejo. És, porventura, quem de mais impressionante encontrei na minha vida e eu quero fazer parte da tua enquanto a minha durar. Quero fazer-te sentir a alegria de me reveres, a felicidade de me sentires num abraço recheado de beijos sentidos e desejados. Quero tocar a tua vida como a abelha toca a flor, gentilmente, com a carícia de quem se dá e depende do outro. Quero transportar o teu olhar para toda a minha gente ver e entender que o amor que te tenho é de tal ordem que aceito o que me quiseres dar. Não me diminui, não me reduz, não me rebaixa nem me inferioriza. O pouco a quem pouco basta é mais que o muito a quem tudo não chega. E é bom.

Ausência

Sentado no escuro, procuro ainda o conforto que um dia senti tão forte e tão quente no teu regaço. Faz tanto tempo que não adormeço sem pensar na promessa que te fiz e na forma como te desiludi. Sinto tanto o tempo que tivemos e a alegria que te impedi de ter que este escuro chega a pesar mais que a pedra que atei ao meu coração e que deixei cair no rio das nossas vidas. Julgo mesmo que a atei um pouco ao teu... e nenhuma lágrima poderá alguma vez repor o bem que não te fiz.
Deitado no escuro, procuro a resposta de um anjo, daquele petiz incarnado na pele da tua vida. Procuro um sinal que me devolva as palavras deste meu gesto que te abraça e que te quer ter perto.
Quero beijar o teu corpo... passar levemente os dedos pelo teu cabelo... sentir o desenho da tua face com a ponta do meu nariz enquanto oiço um suave suspiro por entre o teu sorriso...
Meu Deus, como sinto a tua falta!

Quotidiano / Everyday

Todos os dias, as ondas molham os meus pés. Todos os dias, o toque da espuma corre suave por entre os meus dedos. Todos os dias, o mar escreve na areia o doce murmúrio do teu nome. Todos os dias, o vento que suspiras na minha vida sopra na tua direcção. Todos os dias, as nuvens desenham com candura uma forma do teu corpo outrora desconhecida. Todos os dias, ouço o teu sorriso desvendar-me os teus desejos. Todos os dias, encontro nos olhos de alguém a tristeza de não saber sentir o que todos os dias sinto contigo. Todos os dias, cruzo-me com almas que correm à procura de ti. Todos os dias, o Sol grava na minha pele o teu calor. Todos os dias, o sonho nos junta sem demais temor.

Não há um dia em que não chore com os teus lábios nos meus.

Everyday the waves flow through my feet. Everyday I feel the foam running smoothly in between my toes. Everyday the sea writes the sweet whispering of your name in the sand. Everyday the wind you blow into my life sighs for you. Everyday the clouds kindly shape a drawing of your figure I once knew. Everyday I listen to your smile revealing your desires. Everyday I find in someone's eyes the sadness of not feeling what I feel everyday with you. Everyday I cross the path of souls who run looking for you. Everyday the sun engraves your warmth in my skin. Everyday a dream joins us with no further fears.

Not one day goes by that I do not cry with your lips against mine.

Assim, sem mais.

Recordo o teu olhar. Aquele com que me fitas quando julgas que não te estou a ver. Faz-me sorrir bem dentro do sentimento que apenas guardo para ti. Traz luz ao fundo do meu viver. Acende-se a vela mais sincera, aquela que só se acende a duas mãos, dadas com a certeza da partilha do futuro. Ilumina-me o caminho, clareia a minha jornada, dissipa as minhas sombras. Contigo, não existe "eu" e "tu". Contigo, eu sou quando tu estás. Por ti, abdico de mim para que sejamos nós a marcar o passo das nossas vidas. Assim, sem mais. Por mais que não o queiras e que não peças, eu quero-te mais que a mim mesmo. Quero a minha felicidade mais que as minhas vitórias. Quero o meu sorriso espelhado no teu mais que o meu sucesso.
Quero dar-te a minha mão e cumprir a promessa que acendemos no dia em que partilhámos o brilho e o corpo de quem somos e de quem queremos ser, o dia em que fitámos a felicidade olhos nos olhos sem rancor nem receio.
Lembras-te?
Ela sorriu...

A Falésia de Mim

Trago anos de vida e perco a vista de quantos tenho à frente do mar. O meu mar... de infinitas ondas de novidade, de um alcance que a vista não pode algum dia imaginar. Aqui estou, por mim presa a estes pés de areia que não me permitem avançar. Sentado, fitando o invisível, revejo vidas que já não posso partilhar, faces que os meus dedos não mais vão sentir, lábios que por mim não mais vão sorrir. Passo as mãos pelo cabelo ondulado ao vento e debruço o pesado corpo sobre as águas. Quero saltar, quero mergulhar neste mundo que todos os dias me convida, todos os dias me encontra e que todos os dias recuso. Quero flutuar na liberdade deste ondular... Sei que só poderei deixar de sonhar se cometer a derrocada do que vivi, se esvaziar quem sou e partir... É o silêncio das águas assim tão bom?

Hipnose

Pinto a tua luz no meu corpo, sopro o teu brilho pelo meu cabelo... sinto-te perto, ouço bater-te o coração, ouço o teu sonho movendo-te os lábios, desejando os meus... treme-te o corpo de antecipação e corre uma gota de suor pelo sinuoso desenho do teu peito, fria como cristal e demorada como as nuvens, percorre os segredos que já explorámos com tamanho ardor e humanidade... explora... desce... aloja-se no regaço mais inesperado e ali fica, a contemplar-me, provocadora... moves-te um pouco e acordo da hipnose, do fitar adocicado da tua pele e das tuas linhas... Perco tempo a olhar para as tuas cores, a sentir os teus aromas, a inspirar cada centelha do teu calor e a aquecer o meu coração com o teu... Não me consigo desligar de ti, não o desejo. Sinto-te a mover uma vez mais e todas as sensações se misturam num instante de tempo como que para me fazer entender que o que sinto não é compreensível, não é explicável, não é razoável, não é humano... aqui mora o divino, nos espaços da nossa ignorante sabedoria, e o divino não tem tempo... Tempo delicioso, aquele que tenho contigo... quero-o, sempre mais e sempre nosso.

Surtos de barro

Sorrisos, olhares luminosos de vivo ser perpassam-me o lívido rosto. Sei o seu odor. Sei-o pelo espaço que ocupam no interior da minha voz, suspiros de sombras passadas de vermelho-vivo que me tingem o desejo e a mente. Moldados em rude rotunda madeira, sonharam com a fria e cruel forja. Jogaram o seu futuro contra a porta que não mais se quis aberta... Num surto, tudo se prometeu, noutro tudo se quis cumprir. Por fim, caco a caco, o barro se moldará... A luz do próximo sorriso um dia virá.