Horizonte

Entreguei-me

De corpo, alma e algo mais

E nada posso, poderá alguém?, contra tal.

Entreguei-me e saí-me das mãos

Fugi para um regaço e aninhei.

Não quero sair, não quero voltar para mim

Não o sei, desconheço o caminho.

Tanto andei com o olhar no Horizonte

Que não me lembro onde passei

E o regresso é um segredo que não desvendo.

Caiu a noite. O Horizonte dilui-se nas águas mornas das estrelas.

Quantos brilhos, quantas distracções, quantas possibilidades me rodeiam e me incitam a virar, desviar, alterar o meu rumo.

Pobres, insensatas e desesperadas tentativas... Num segundo se prende o meu olhar no Horizonte, ténue, diluído; mas eu sei onde ele está e sei o que desejo dele e sei que o que lhe dei ele jamais rejeitará.

Ah, Mostra-me O teu Rosto! Dá-me o benefício eterno do teu sorriso... envolve-me no teu brilho verde-castanho, entrança-me nas ondas do teu cabelo...

Em verdade, entregue estou.

E o regresso... qual regresso?..

O meu, o teu ou o nosso

Aceito o medo, aceito a pena, aceito a tristeza, aceito as lágrimas, aceito o choro, aceito a frustração, aceito a separação, aceito a inacção, aceito o desespero, aceito a dor, aceito a ansiedade, aceito a insónia, aceito o frio de noite, aceito a solidão, aceito o vazio, aceito a escuridão, aceito o desconhecido, aceito a distância, aceito a independência, aceito o desafio, aceito o risco, aceito o tempo, aceito a ausência mas...

...não consigo viver com o silêncio.