Acto II

A razão és tu. Sempre foste. Sempre te senti bem perto e nunca deixei de te abraçar com todas as forças que tenho. Sempre foste o meu motivo e a minha luz, o meu calor no frio e a água que me refresca. Só de pensar em ti uma vez mais julgo sentir o toque dos teus cabelos na minha pele e estremeço em ansiedade. A tua pele continua tão sedosa como o primeiro dia em que tocaste os meus lábios e me mostraste o que podias dar-me... Desejo-te como nunca e cada vez tenho menos vontade de o esconder; cada vez faz menos sentido fazê-lo... Perdoa-me se o escondo há demasiado tempo; perdoa-me se o sinto desta forma que me inunda todos os dias e me alaga os olhos quando a noite já vai longa e pesada. Não sei como dizê-lo, não to soube mostrar antes e estou seguro que nunca irás poder compreender o papel central que tens tido na minha vida desde que nos reencontrámos e nos redescobrimos. Mas a verdade é que o holofote desta peça sempre esteve apontado para ti, a minha estrela, o meu anjo... a minha esperança da vida que sempre sonhei viver... cai a cortina sem se saber o fim mas a peça vai ainda a meio. Os últimos actos estão ainda por escrever... talvez a dois?

Acto I

Corre no meu pulsar um oco murmúrio, vestígio inabalável da grande peça que ocupa o teatro do meu sentimento. Não cessa de se fazer ouvir, de me fazer lembrar que o maior drama e a maior alegria podem ter os mesmos personagens em palco e que os fios da vida que os guiam se podem embaraçar para todo o sempre mesmo se alguns actos os separam. Vagueio pelos bastidores, por entre uma miríade de vultos em frenesim constante ao meu redor, onde se vivem mil vidas diferentes e outros tantos mundos que nada me dizem, nada me atraem... não como tu o consegues.

Gostava de, um dia, poder dizer-te na minha voz tudo o que as minhas mãos escrevem, com a clareza com que se faz um monólogo, com a beleza das palavras certas no momento certo e a expressão no rosto de quem viveu uma vida inteira para aquele momento. O momento em que um se esvazia para que o outro o possa preencher por completo; o momento em que se fica à mercê da espada e se deposita toda a esperança em quem a segura.

Gostava que, um dia, pudesses ouvir estas minhas palavras e acreditar que não são teatro mas um acto de amor que procura o teu. Em todas as linhas, penso em ti.