Descensão

Quero ver-te, quero ter-te, tocar-te e rolar contigo. Quero pôr-te num pedestal e arrancar-te de lá com o maior desejo que a carne pode sentir. Quero tactear as curvas desse caminho que te faz suspirar no escuro e te orienta o suor descendo pelas costas quentes e hirtas de prazer. Quero respirar o calor dos teus lábios e sentir a dor nos meus enquanto me mordes sem medo. Quero puxar-te o corpo para mim e segurar o teu ímpeto descontrolado. Quero sentir-te tremer desde o mais dentro do teu corpo e os teus lábios contorcerem-se na tentativa vã de compreenderem o que se passa, o sentimento que te perpassa num gemido de solta entrega e se perpetua em ecos de doce deleite. Quero beijar os teus finos cabelos colados à cara, revoltados pelo abuso que lhes foi permitido, livres das inibições impostas por todos os dias ter de ser, ter de parecer. Não mais. Aqui não há prisões, tudo soltamos e consumimos, recriando-o no momento seguinte ao arder da paixão para mais não fazermos do que nos entregarmos sem tréguas mais uma vez... e outra... e mais... até que os tecidos que nos cobrem guardem apenas o olor do que nos demos sem hesitação nem descanso nem reflexão e o seu calor se sobreponha ao do nosso corpo, uno, junto e completo e nos adormeça no seu abraço...

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E amanhã também.