Sempre perto

Em tempos, pedra. Hoje, vidro. Gentil e suave vidro. Sinto o toque frio na fonte dos meus sentidos e lembro a areia que correu na praia de alguém, a decidida brisa que a moveu, que a acompanhou para um destino maior. Fixo o olhar na crua beleza das curvas que moldaste por mim e inundas o meu corpo com o salgado ondular do teu corpo. Sabes a força do mar, conheces os segredos do vento...

Haverá algo mais belo que uma praia num dia de Inverno? Sentar num rochedo à beira de uma falésia. A fúria das sereias a bater nos empedernidos corações da tristeza que os criou quando o tempo não era mais que uma memória. Haverá algo mais belo que admirar a efémera glória da espuma que vence a onda para fenecer no instante seguinte no alto da sua liberdade? Não são assim as nossas vidas?...

Assim foi a minha vida contigo. O rude e o suave em permanente contacto de beijos de fúria e emoção, fortes, doces, ofegantes e duradouros. Tentámos voar tão alto nesta onda que perdemos o pé. De tão intensa, tornou-se lesta a escapar-se entre as malhas desta rede que nos prendeu e juntou como se outro destino não acreditasse poder sobreviver a este acordo de contradições e impossibilidades. Efémero foi. Fiquei na onda que banha a rocha que és. E assim estarei sempre perto
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