O Outro Lado do Espelho

Parto preso pelos cordões do tempo. Troquei os sons pelo doce sorriso do silêncio e aí me deixei, vazio de expressão, contemplando um futuro que não era meu, em que não era eu. Diluí a alma num lago de calmas provações e me fixei no espelho de água de uma imagem minha distorcida. Finalmente, ouvi o sussurro das velhas da praia, arautos de experiência desiludidos, clamando para si o meu nome e gravando na pedra do Destino as feições do meu coração...
Parti a prisão dos cordões do tempo, cindi a pedra que me pesava o corpo e libertei o bater da minha voz, escrivão do meu sentimento, estilhaçando esse lado do espelho que não é senão ilusão. Em mil reflexos se dividiu, em mil gotas se evaporou. Nada mais é.
Sigo livre das linhas que não escrevi, sorrindo em silêncio, em busca do espelho que um dia reflicta nada mais do que a imagem de ti. Comigo.