Quando

Estou num daqueles momentos em que me sinto como se tivesse acabado de chegar à beira do mar, sentindo o frio da água e com a imensidão do azul-cinza no meu caminho... Olho para a compleição deste maravilhoso maciço que se ergue, repetida e desavergonhadamente, à minha frente, com o branco do seu sorriso de espuma e sal, aquele sorriso de quem sabe que é muito mais forte que aquele que se lhe apresenta... Sinto o desafio da brisa nos recantos do meu rosto e o impulso sussurrado da areia que se agita debaixo dos meus pés nus, frios e insensíveis aos tormentos da caminhada que me trouxe a este confronto... "Sou eu e tu, meu caro!" - e apetece-me gritar - "Eu e tu!!!... Que queres roubar de mim, que mais podes rapar a este fundo de vazio?" Defronto-o de peito cheio de nada como se estivesse na mesa de jogo mais cobiçada do Mundo... Ameaço o movimento que decidirá esta batalha e o sorriso recua, apenas para se reerguer e reafirmar que os séculos que a experiência lhe deu lhe conferem a vitória total e absoluta. É ele quem controla, é ele quem define o como e o porquê. Reservo-me o quando... e quando quiser, darei o passo que me falta para me imbuir do sal e da espuma e me cobrir desta sabedoria intragável do mar da vida... Será o dia mais triste, aquele em que resolver deixar a praia do meu paraíso, onde construí a minha morada e a quem prometi a minha fidelidade... Para me deixar preencher, esvaziarei tudo o que sou e fui... Que seja... é que, assim, dói tanto...