Acto I

Corre no meu pulsar um oco murmúrio, vestígio inabalável da grande peça que ocupa o teatro do meu sentimento. Não cessa de se fazer ouvir, de me fazer lembrar que o maior drama e a maior alegria podem ter os mesmos personagens em palco e que os fios da vida que os guiam se podem embaraçar para todo o sempre mesmo se alguns actos os separam. Vagueio pelos bastidores, por entre uma miríade de vultos em frenesim constante ao meu redor, onde se vivem mil vidas diferentes e outros tantos mundos que nada me dizem, nada me atraem... não como tu o consegues.

Gostava de, um dia, poder dizer-te na minha voz tudo o que as minhas mãos escrevem, com a clareza com que se faz um monólogo, com a beleza das palavras certas no momento certo e a expressão no rosto de quem viveu uma vida inteira para aquele momento. O momento em que um se esvazia para que o outro o possa preencher por completo; o momento em que se fica à mercê da espada e se deposita toda a esperança em quem a segura.

Gostava que, um dia, pudesses ouvir estas minhas palavras e acreditar que não são teatro mas um acto de amor que procura o teu. Em todas as linhas, penso em ti.

1 comentário:

Quase... disse...

«Viver é já ousar
Mas ousadia maior é amar
Acreditar que a Primavera vai...
Mas volta sempre
Como fazem as ondas do mar.»