Ausência

Sentado no escuro, procuro ainda o conforto que um dia senti tão forte e tão quente no teu regaço. Faz tanto tempo que não adormeço sem pensar na promessa que te fiz e na forma como te desiludi. Sinto tanto o tempo que tivemos e a alegria que te impedi de ter que este escuro chega a pesar mais que a pedra que atei ao meu coração e que deixei cair no rio das nossas vidas. Julgo mesmo que a atei um pouco ao teu... e nenhuma lágrima poderá alguma vez repor o bem que não te fiz.
Deitado no escuro, procuro a resposta de um anjo, daquele petiz incarnado na pele da tua vida. Procuro um sinal que me devolva as palavras deste meu gesto que te abraça e que te quer ter perto.
Quero beijar o teu corpo... passar levemente os dedos pelo teu cabelo... sentir o desenho da tua face com a ponta do meu nariz enquanto oiço um suave suspiro por entre o teu sorriso...
Meu Deus, como sinto a tua falta!

2 comentários:

Quase... disse...

...fico sem palavras quando leio as tuas palavras e com tanta vontade de trocar palavras contigo...

Alguém... Algures... disse...

Conseguir conviver com as saudades é um mistério e um exercício diário de contenção e de sublimação da dor da ausência.
Seremos nós, portugueses, um povo geneticamente destinado a viver e a cantar a saudade?
Seremos assim tão habilidosos, a ponto de sabermos conviver com a saudade mais do que os russos, os italianos ou os australianos?
Seremos mais aptos do que os outros povos?
Será a nossa história uma espécie de manual de aprendizagem, que nos permite sobreviver á saudade?
Será que é mais fácil aceitar saudades hoje do que antigamente?
Penso que as saudades disto ou daquilo são sempre mais fáceis de gerir do que as saudades desta ou daquela pessoa. No meu caso, porque até hoje, tenho tido a possibilidade de me envolver em coisas que me têm trazido sempre mais satisfação, por comparação com as anteriores, o que não quer dizer que as experiências anteriores não tenham sido também satisfatórias e até excepcionais. Mas voltando ás saudades dos outros, sinto que vou gerindo com maior dificuldade, não de todas as pessoas, mas daquelas mais significativas da minha vida, como a perda daqueles que me eram muito queridos. Pior ainda são as saudades de quem não se perdeu, mas que embora longe fisicamente, está muito perto emocionalmente. São essas pessoas que dão á palavra saudade o seu verdadeiro significado e são elas também que nos fazem sentir o peso da saudade na sua plenitude.
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Adorei o teu texto.
Obrigada, por este belo momento de leitura.