Faux Pas
Não ser querido por querer demais, ou apenas mais, deve ser o castigo mais cruel entre duas pessoas. Uma fica sem muito e a outra fica sem tudo quando ambos poderiam ter muito de tudo. Quando o amor não chega, o que sobra? Quando alguém te quer fazer feliz, porque sabe que isso também o fará feliz e que ambos serão felizes, juntos, onde mais podemos querer chegar? Quando demos tudo e isso foi apenas tudo o que demos, que mais podemos querer alcançar? Um encontro de desencontros. Assim é quando o amor aceita o duelo do gostar. Uma luva branca de forro negro... Ecoa pela sala surda um riso de choque, mesmo após tantas vezes ter visto este drama. Na plateia, a ironia acompanha mais um ensaio da peça que nunca se estreará, não por falta de cenário ou figurantes nem por falta de uma sala disposta a encher-se de recordações e actuações memoráveis. Nem mesmo por falta dos actores principais ou dos adereços que os caracterizam... mas porque falta o contraponto. Falta o seu discurso em pensamento alto, a rede dos nossos faux pas... GRITA! Por amor de Deus, grita! Faz-te ouvir como se o Mundo dependesse do meu mundo! Sim, aquele que se desfaz à tua frente... Diz-lhe que estarás lá sempre que precisar e que as suas deixas surgirão sempre, fruto da dedicação, do trabalho e do amor dos personagens. Diz-lhe que já o viste tantas vezes e em tantas peças. E diz-lhe, por favor, que, mesmo quando não estiveres, ela ter-me-á sempre.
Por
Da Silva
a
1.7.12
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Descensão
Quero ver-te, quero ter-te, tocar-te e rolar contigo. Quero pôr-te num pedestal e arrancar-te de lá com o maior desejo que a carne pode sentir. Quero tactear as curvas desse caminho que te faz suspirar no escuro e te orienta o suor descendo pelas costas quentes e hirtas de prazer. Quero respirar o calor dos teus lábios e sentir a dor nos meus enquanto me mordes sem medo. Quero puxar-te o corpo para mim e segurar o teu ímpeto descontrolado. Quero sentir-te tremer desde o mais dentro do teu corpo e os teus lábios contorcerem-se na tentativa vã de compreenderem o que se passa, o sentimento que te perpassa num gemido de solta entrega e se perpetua em ecos de doce deleite. Quero beijar os teus finos cabelos colados à cara, revoltados pelo abuso que lhes foi permitido, livres das inibições impostas por todos os dias ter de ser, ter de parecer. Não mais. Aqui não há prisões, tudo soltamos e consumimos, recriando-o no momento seguinte ao arder da paixão para mais não fazermos do que nos entregarmos sem tréguas mais uma vez... e outra... e mais... até que os tecidos que nos cobrem guardem apenas o olor do que nos demos sem hesitação nem descanso nem reflexão e o seu calor se sobreponha ao do nosso corpo, uno, junto e completo e nos adormeça no seu abraço...
...
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E amanhã também.
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Da Silva
a
18.1.10
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Decisão
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Da Silva
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6.12.09
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Dias
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Da Silva
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7.6.09
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Acto II
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Da Silva
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29.4.09
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Acto I
Corre no meu pulsar um oco murmúrio, vestígio inabalável da grande peça que ocupa o teatro do meu sentimento. Não cessa de se fazer ouvir, de me fazer lembrar que o maior drama e a maior alegria podem ter os mesmos personagens em palco e que os fios da vida que os guiam se podem embaraçar para todo o sempre mesmo se alguns actos os separam. Vagueio pelos bastidores, por entre uma miríade de vultos em frenesim constante ao meu redor, onde se vivem mil vidas diferentes e outros tantos mundos que nada me dizem, nada me atraem... não como tu o consegues.
Gostava de, um dia, poder dizer-te na minha voz tudo o que as minhas mãos escrevem, com a clareza com que se faz um monólogo, com a beleza das palavras certas no momento certo e a expressão no rosto de quem viveu uma vida inteira para aquele momento. O momento em que um se esvazia para que o outro o possa preencher por completo; o momento em que se fica à mercê da espada e se deposita toda a esperança em quem a segura.
Gostava que, um dia, pudesses ouvir estas minhas palavras e acreditar que não são teatro mas um acto de amor que procura o teu. Em todas as linhas, penso em ti.
Por
Da Silva
a
2.4.09
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