Tântalo

Pensar em ti é tantalizante. É algo que me prende a imaginação e ordena ao sonho a minha mente. Crio espaços, cores, cheiros e tonalidades, junto-lhes as flores, os caminhos empedrados e as árvores em amarelo Outono, recorro ao som da brisa e ao piar suave das aves... Tudo o mais já lá está, estamos eu e tu e nada mais preciso! Sinto o sorriso desenhar-te os lábios e o sentimento estampado nos meus... Oiço o futuro a suspirar por entre os nossos dedos e o desejo a crescer no peito que trava e resiste contra a plenitude da liberdade que não tarda e que vislumbro, perto, cada vez mais perto... É chegado o momento, é sentida a pressão, traduz-se a flor da esperança em semente de vida nova. Sabes bem. Sei-o bem e jamais me esquecerei. Sabe-me bem e a surpresa que perpasso não é pelo que sinto mas por como o sinto! É morno. Tem um toque plano, suave como o ondular do teu cabelo mas forte e decidido como a sua cor. É envolvente, segredado pelos deuses na calma etérea do tempo ao ouvido de quem mais o quis perceber. É intenso, livre como a gota que atrevidamente se passeia na tua pele de sinuosidades sábias enquanto nos damos em amor. É, e destruiu todas as medidas que havia estabelecido e perfurou todas as armaduras que ainda possuía! Um golpe só bastou... ruiu o castelo de cartas das minhas fraquezas e indecisões, caiu o potestado da minha insegurança... secam-se os meus lábios pela última vez...
Amo
e, se o faço, é por ti.
-te

Quando

Estou num daqueles momentos em que me sinto como se tivesse acabado de chegar à beira do mar, sentindo o frio da água e com a imensidão do azul-cinza no meu caminho... Olho para a compleição deste maravilhoso maciço que se ergue, repetida e desavergonhadamente, à minha frente, com o branco do seu sorriso de espuma e sal, aquele sorriso de quem sabe que é muito mais forte que aquele que se lhe apresenta... Sinto o desafio da brisa nos recantos do meu rosto e o impulso sussurrado da areia que se agita debaixo dos meus pés nus, frios e insensíveis aos tormentos da caminhada que me trouxe a este confronto... "Sou eu e tu, meu caro!" - e apetece-me gritar - "Eu e tu!!!... Que queres roubar de mim, que mais podes rapar a este fundo de vazio?" Defronto-o de peito cheio de nada como se estivesse na mesa de jogo mais cobiçada do Mundo... Ameaço o movimento que decidirá esta batalha e o sorriso recua, apenas para se reerguer e reafirmar que os séculos que a experiência lhe deu lhe conferem a vitória total e absoluta. É ele quem controla, é ele quem define o como e o porquê. Reservo-me o quando... e quando quiser, darei o passo que me falta para me imbuir do sal e da espuma e me cobrir desta sabedoria intragável do mar da vida... Será o dia mais triste, aquele em que resolver deixar a praia do meu paraíso, onde construí a minha morada e a quem prometi a minha fidelidade... Para me deixar preencher, esvaziarei tudo o que sou e fui... Que seja... é que, assim, dói tanto...

Adeus

Uma luz ao fundo do túnel. Partida ou chegada? Ouço os muros a erguerem-se, as paredes fechando as dores de lágrima que tão perto sinto. Apaga-se a vela... Não, sou eu que cerro os olhos. Sinto ainda o calor, o calor dos meus, aqueles que tive e que criei, aqueles que me tiveram sempre e a quem me dei. Sempre. A lágrima já não vem... Não fez parte da minha vida, não o fará da minha morte. Sorrio. E como não? Agora vai ser tão bonito...

Um simples olhar

Quero, um dia, olhar-te olhos nos olhos, rever-me no espelho da tua alma e procurar a minha fonte de vida reflectida no dançar das tuas lágrimas de felicidade... quero um sorriso nos meus lábios... o teu sorriso nos meus lábios...

O meu toque na tua pele... o ar quente que trocamos... o momento da expectativa em que fito, uma vez mais, o interior um do outro... desvias o olhar para o fino fio que recorta os meus lábios e partilhamos o guloso sabor da paixão que travámos, segurámos e aguentámos debaixo desse gigante silencioso que é o peso imensurável do tempo... os corpos verão o que os olhos não podem e dar-se-ão como o mar se dá à praia, ora violenta, ora docemente mas sempre deixando que um pouco de si se deixe emaranhar e absorver pelo outro, enrolando e envolvendo... sem vencedores nem melhores, sem vitórias nem prémios mas sem tréguas nem piedade... apenas dádiva... pelo meio, ressurgirá o sorriso novo, será um sorriso puro e verdadeiro, será um sorriso que desafiará o efémero e o superficial, será o levantar do véu de tudo o que amordaçámos, será um renascimento da alegria e da esperança, será um novo querer e um novo poder, será almejar a lua e conseguir o Sol... e quando as sensações se desvanecerem e jazermos de satisfação, enleados nos braços um do outro, as lágrimas correrão pelo puro prazer da felicidade, pela saudade e pelo reencontro com um amigo de sempre há tanto perdido e desaparecido... e perguntar-me-ei como foi possível que tudo tenha começado com um olhar... um simples olhar.

Certa diferença

Já consigo perceber a diferença.

A diferença entre o sentir e o querer sentir, o ver e o experimentar, o viver e o imaginar... já sei porque surges tanto na minha vida quando não estás por perto e porque o relevo do teu rosto não se erode da minha imaginação... já sei porque quero tanto falar contigo e esperar por ti quando não estás... já sei o que é este interno tremor que me inquieta... já sei porque são os teus olhos a sua causa... já sei que quero quem quero ter comigo e quem quero ser contigo... vejo-te acima de todas as dúvidas e os teus olhos nunca brilharam tanto como hoje, são o reflexo da minha alegria e da minha certeza, a certeza do sorriso que vou colocar nos teus lábios e do brilho que vou receber nos espelhos da minha alma. Dançarei no doce deambular do teu cabelo e o meu corpo, mais uma vez, tremerá de satisfação e ansiedade pelo momento em que o leve toque dos dedos nos fará atravessar o universo num segundo divino... ao toque, parará o tempo só para nós e a vida que nos prometermos realizar-se-á diante dos nossos sorrisos e beberá das lágrimas que correrão, suaves e puras, em direcção ao coração do outro. Abraçar-te-ei no calmo calor da tranquilidade e o tremor não mais será.

Permanece a certeza.

Estúpido inconsequente

Estúpido inconsequente. De nada vale o que sentes, tudo o que fazes é impotente para mudar o pouco do Mundo que à volta ressentes. Todos os dias acordas com um nome e uma preocupação em mente: onde, como, será que... Tudo surge incógnito, anónimo para o teu reconhecimento. Memória de papel... que se amarrota e se atira pela janela ou pelo caminho obscuro de um cano profundo, perdendo-se no vento e diluindo-se no tumulto das águas sem recordação nem futuro. Tributo ao enlace eterno perdido, jogado fora, descartado, erodido. Vida sorrisonha mas triste te espera ao fundo do túnel curto de desgosto e vazio.

Luta, resiste, combate, solta-te, liberta-te, esperneia o limite dos teus sentimentos, rompe essa cadeia de elos turvos e pesados, rói a pata que te prende, sacrifica uma parte do teu coração... para sempre.

Não sejas, não tenhas, uma vida estúpida e inconsequente!

Baila um sorriso nos meus lábios

Baila um sorriso nos meus lábios, marca-me o rosto de efémera alegria e, enquanto ele baila, vagueiam os olhos por outros palcos, velas de moinhos enfunadas pela brisa da curta simpatia que gera um toque, um sinal, sinal de agradecimento, de consideração, se calhar, até, de algum gosto, o gosto de saber o sabor do outro... devaneio... mas o sorriso que veio, ficou, “efémero não sou!”-disse- e como que por tolice surgiu com o fato de cerimónia, a encher a sala e a contagiá-la com a música dos seus passos e a doçura dos seus braços que seguram a simpatia nesta noite de folia em que dança e corropia o sentimento da minha vida.
Baila um sorriso nos meus lábios, marca-me o rosto de perene alegria.