Cumulonimbos

O cúmulo das nuvens é não as podermos agarrar. São as vozes dos sonhos, o sabor dos desejos, ocos ecos de uma vida. A minha nuvem surge quando o eco se vai, disforme, fria, de olhos de negro carregados, molhada de lágrimas sentidas. Se ao menos a pudesse levar em mim, no recôndito do meu sentir, para que a luz do Sol não a notasse, não a visse, não percebesse... que a razão é ela, que a tempestade não finda quando lhe viramos as costas, que o fogo não esmorece quando nos afastamos... e como ardo ainda... e como chovo ainda... e como disforme se mantém o sonho que ouvi, o desejo que provei, o eco que vivi... uma névoa que pesa os ombros de quem já carregou demais para uma vida só...
O cúmulo das nuvens somos nós, de pobres, brutas mãos, que falhamos em as agarrar, que as tentamos prender ao ondular do nosso querer, que as procuramos como se as pudéssemos compreender, como se as pudéssemos satisfazer... As nuvens são para voar.

1 comentário:

Margarida Brito Leitão disse...

Fico feliz por teres escrito novamente. Venho cá pontualmente, já desde alguns anos, para ler o que escreves. Venho aqui, porque sabe bem ler alguém que ama assim... Beijos