A salvo

Deixei-me navegar para longe sem uma mensagem tua...  nem um toque, nem um sorriso, nem um olhar, nem um pedido. Não sei se foste tu que foste ou se fui eu que me virei. No escuro, não faz diferença. Apenas o cheiro da tua pele hesitou, como passos nus em chão de granito, duro como o momento em que se extinguiu...

porque o rochedo da inevitabilidade não apaga as linhas com que enleavas o meu olhar, não corta a brisa doce do mar de palavras surdas com que velejavas o meu corpo, não pesa sobre o pico de desejo com que me abraçavas a fundo perdido, não cede às investidas da paixão das manhãs que sonhámos!..

Um dia, encontrarei a pedra, aquela ínfima pedra solta. Na base. E, antes da tarde o ser, verei as ondas do teu corpo enrolarem sobre mim, provarei o sal que me tempera a tua pele, salvar-me-ei nas amarras fortes do teu cabelo, suspirarei por casa, por ti, por mim, a salvo, enfim.

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